quinta-feira, 24 de abril de 2014

Ver o mar



 
     Lembrei de um feliz episódio que ocorreu há alguns anos. Estava eu meio que adormecido, deitado no sofá da sala da casa em que eu morava com meus pais, quando de repente fui acordado por minha mãe para lhe prestar um favor. Como filho atencioso que sempre fui, levantei imediatamente para atender-lhe o chamado.

     O pedido era para que eu fosse até a rodoviária buscar uma moça do interior, que veio para João Pessoa em busca de trabalho. Fazia algumas semanas que minha mãe estava sem uma secretária do lar, para ajudar-lhe nas tarefas da casa. Ao me fazer o pedido, os seus olhinhos brilharam como quem acabara de encontrar a solução para um descanso, diante de tantas tarefas que ela, sozinha, vinha desempenhando. Fomos então, eu e minha mãe, até o terminal de ônibus em busca da nova funcionária.

     Chegamos lá, encontramos uma moça de aproximadamente 18 anos, magrinha, mal vestida,  calada, tímida, matuta. Tratei de puxar conversa para deixá-la mais tranquila, antes que minha mãe começasse a sabatiná-la. Ela foi se soltando e se revelando uma pessoa extremamente carente de atenção e conhecimento. Contou-nos que o pai já havia falecido. Que até aquela data só havia morado com a mãe, uma senhora de 50 anos, em um sítio das redondezas do município de Sumé, no Cariri paraibano. Que em sua casa não havia energia elétrica e muito menos água encanada. Que nunca tinha deixado sua cidade e que veio para Capital em busca de trabalho, mas também em busca da realização de um sonho: ver o mar.

     Aquela revelação me umedeceu os olhos. Nossa, diante de tantos desejos e sonhos o que ela almejava era tão pouco. Enquanto descíamos a Av. Pedro II me veio uma ideia: vou levá-la agora mesmo pra ver o mar. Sem dizer nada a ninguém, acelerei o carro na direção de Tambaú. Era por volta das 20h. Minha mãe só percebeu que alguma coisa estava errada quando subíamos a ladeira do Miramar. Mas também não comentou nada.

     Em silêncio, fui pela Av. Ruy Carneiro para que ela não percebesse a manobra e desse de cara com o bendito sonho. Estacionei no antigo Bahamas e convidei as duas a descer do carro. Abraçada com uma pequena bolsa de mão como a única bagagem que carregava, ela desceu com os olhos arregalado e encantada com tantas luzes. Minha mãe ficou do lado de fora enquanto eu a conduzia pela caçada até o Pier, que ficava atrás do bar.

     Quando ela se deu conta que estava diante daquela imensidão de água salgada, do sonho tão almejado, percebeu que tudo não passava de uma surpresa e em meio de gritos de alegria, caiu num pranto em que as lágrimas desciam-lhes dos olhos como rios. Chorou na frente de tudo e de todos. Chorei também. Consegui enxergar nas suas lágrimas o diferente brilho que havia nos meus olhos. Ela ainda não se conteve e desceu da calçadinha, foi na direção do mar e tomou banho de roupa e tudo. Para mim, aquela foi uma experiência incrível.

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